sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

HISTÓRIA DO PAI NATAL NO FUNDÃO - 2010


Esta é a história da visita que o Pai Natal “trajado a preceito” fez a nossa casa, quando os netos vieram ao Fundão passar o Natal de 2010.

E o Pai Natal trazia as prendas pedidas pelo António e pela Benedita, para além das que serviam de partilha entre adultos.

O Pai Natal havia descido pela chaminé e dali para o sótão, deixando depois as prendas no terraço e assinalando a entrega com o tradicional oh-oh-oh !


O António e a Benedita deram-se conta do barulho e foram a correr para tentar vê-lo. E conseguiram. Mas depois, intrigados, deixaram a pergunta ao tio David: “porque é que o Pai Natal tinha umas sapatilhas iguais às tuas ?”

A resposta do tio David talvez não os tenha convencido, mas aceitaram-na:- porque eu encontrei um senhor de barbas brancas que me perguntou onde tinha comprado aquelas sapatilhas, porque gostava muito de ter umas iguais, e eu indiquei-lhe o estabelecimento.
E foi assim que no Fundão aconteceu Natal em 2010.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

1969 - FÉRIAS EM ANGOLA – relato nunca feito de uma viagem recordada passados 50 anos


Num dos períodos de férias em tempo de comissão militar na então cidade Salazar, hoje N’dalatando, Angola, eu e dois dos companheiros do PAD 1245, resolvemos ir conhecer um pouco do sul de Angola, nomeadamente Lobito, Benguela e Nova Lisboa, fazendo um circuito a iniciar em Luanda. Para além de mim, faziam também parte do pequeno grupo o Conceição e o Ferreira, sendo os três furriéis do P.A.D. 1245.
A viagem teve o seu início a bordo de um barco de passageiros cujo nome já sumiu da nossa memória, no qual pernoitamos enquanto este navegava rumo ao Lobito. O Ferreira dizia-me há dias, quando lhe lembrei esta viagem, que nunca esqueceu a sopa de feijão vermelho e hortaliça que nos foi servida à refeição, mas o menú completo nenhum de nós foi capaz de recordar.
 

O Lobito foi então visitado durante o tempo de espera pela partida do comboio dos CFB (Caminhos de Ferro de Benguela), o chamado Comboio Mala, que havia de nos levar até Benguela e daí para Nova Lisboa, depois de passar na Catumbela, Cubal e Caála. Durante a visita ao Lobito tive oportunidade de subir a bordo da máquina nº. 1 do CFB que ali se encontrava exposta. 
 

Foi no conforto de uma carruagem-cama que nos instalámos e passámos a noite, usufruindo também do impecável serviço de restaurante que na altura foi muito apreciado. A experiência que esta viagem nos proporcionou não foi esquecida até hoje.


Outro atractivo desta viagem, na parte que englobou o comboio, tem a ver com a beleza do percurso que nos foi dado apreciar, principalmente com o findar da claridade do dia e o seu início no amanhecer, ao longo dos mais de 300 km percorridos enquanto o comboio subia, num andamento remanchão, para o planalto central até ao Huambo-Nova Lisboa. Mas a beleza das zonas rochosas que a composição ia atravessando não lhe ficava atrás.


Estávamos então em 1969 e nessa altura o tipo de locomotivas usadas na tracção da composição do comboio eram já diesel-eléctricas da marca “General-Electric” que começaram a ser adquiridas a partir de 1961, embora tenha a ideia de que na altura ainda eram utilizadas as locomotivas Beyer-Garratt de fabrico australiano, talvez mais em comboios de mercadorias.

Nova Lisboa surpreendeu-nos pela sua grandeza, enormes avenidas, uma actividade comercial intensa e edifícios de grande volume, liceu, instituto Superior de investigação Veterinária,  hospital, cinema, vários clubes, etc.

Depois de nos instalarmos numa residencial perto da central de camionagem, tivemos oportunidade de ir ao cinema e nos dois dias seguintes demos voltas para conhecer o mais possível da cidade, até encetarmos o regresso a caminho de Luanda, vencendo os 600 km de distância.

A meio do caminho desse longo percurso, o autocarro que até já era de razoável conforto, fez uma paragem para o almoço num restaurante à beira da estrada.

Ainda hoje recordo que na valeta andava uma porca a focinhar, com uma manada de leitões a imitá-la. Ora naquela fase da comissão, os nossos comportamentos ultrapassavam por vezes os padrões de gente equilibrada, sendo chamados de “cacimbados” ou “apanhados do clima”. Comigo, acontecia que gostava de imitar o roncar de um porco, levando-me a fazê-lo quando me confrontei com aquela porca. Então ela deixa de focinhar, levanta para mim o focinho e fixa-me, fazendo duas vezes: crrom-crrom. Imaginei que na linguagem porcina tenha respondido:- vai dar uma volta !

Depois da chegada a Luanda, onde passámos uma noite na Pensão Setubalense, houve que decidir do regresso à Cidade Salazar e a opção quanto ao transporte foi o combóio, que iria demorar um dia, mas que não perturbava os nossos planos. Aliás, a vantagem em ir de comboio resultava também do facto de beneficiarmos de um bónus de 75% no custo da viagem em 2ª. classe por sermos sargentos do exército português, bónus que se obtinha junto dos serviços dos Caminhos de Ferro e Transportes de Angola, que apunha um carimbo no verso do B.I.Militar com essa certificação.



Já tínhamos a experiência de outras viagens semelhantes e por isso esta era mais uma que iria permitir sair do comboio em certos trechos do percurso, ir colher um cacho de bananas a que chamávamos banana-macaco por serem de tamanho mais reduzido, das muitas que havia junto à linha do comboio e regressar de novo à composição. Isto acontecia principalmente nas zonas montanhosas como era a subida da zona dos Morros de Salazar, em que o comboio tinha uma marcha tão lenta que podia ser acompanhado a pé, marchando a seu lado.
Passaram 50 anos, mas recordar aqueles momentos é como rebobinar de forma inversa a fita do tempo. E como é bom poder fazê-lo.


quarta-feira, 29 de maio de 2019

O PAN (Pesoas-Animais-Natureza) está de parabéns.


Com o seu crescimento que lhes valeu a eleição de um eurodeputado, presumo que aceitem que diga que passaram a ter maiores responsabilidades e vou deixar-lhes uma mensagem:- estejam à altura dessas responsabilidades.

Mas a minha mensagem também pretende dizer o seguinte:- em 2006 visitei a cidade de Praga (República Checa) e a minha atenção foi atraída para pequenos postes ao longo de uma avenida, tendo cada poste uma prateleira com diversos maços de cartão. Por curiosidade retirei um deles e não houve necessidade de pedir a ninguém que traduzisse a mensagem que estava escrita na linguagem local. As imagens mostravam claramente o fim a que se destinavam e a forma como eram dobrados os cartões para poder ser utilizados.


Um outro exemplo trouxe de Oviedo quando ali estive no início deste mês: todos os dias de madrugada os serviços de limpeza do Município local (Ayuntamiento) lavam as ruas da cidade. E as pessoas manifestam grande orgulho por Oviedo ser considerada a cidade mais limpa de Espanha.

Mas aqui também uma informação importante me foi dada a conhecer: quando uma pessoa passeia o seu cão e este tenha necessidade de defecar, caso o seu dono não recolha de imediato o dejecto que o cão deixa para trás, sujeita-se a uma multa que pode atingir os 300 €.

Nada me move contra as pessoas que gostam de ter animais de companhia, embora não confunda que gente é gente e bicho é bicho. Mas já não consigo conter a minha indignação quando piso a cagada de qualquer canino dos muitos que as pessoas passeiam por ruas ou jardins por onde transitamos ou também brincam crianças. Na minha cidade e particularmente na minha rua … então é uma desgraça !

Como partido político, agora com representação no parlamento europeu, não se insurjam apenas contra os que gostam de touradas ou não toleram que um animal esteja a seu lado no restaurante que ele próprio frequenta.

Desenvolvam a vossa acção sobre os comportamentos dos donos dos cães e em prol da limpeza das nossas povoações, porque a limpeza “diz” muito mais quanto ao que vale o nosso civismo.

terça-feira, 21 de maio de 2019

PICOS DE EUROPA - Maio 2019

Já há muito que desejava ir até lá ao alto, mas só agora foi possível concretizar esse meu plano, apenas com a contrariedade de o estado do tempo não ser o melhor lá pelas alturas. Mas esse é um factor que ninguém controla.
Dia 1. Foi do operador turístico Pinto Lopes o programa da viagem, que para nós (casal Vaz) começou no Fundão, onde foi recolhido pelo autocarro que já vinha de Lisboa, com o grupo a completar-se na Guarda quando as pessoas vindas do Porto se juntaram a nós.
Cidade Rodrigo foi a primeira paragem, que permitiu aos que não conheciam esta histórica cidade ficar com uma ideia sobre a mesma, onde o destaque é para as suas muralhas, ponte romana e catedral. Aqui foi também o almoço que agradavelmente se acomodou no espaço que lhe estava reservado.
Zamora foi a paragem seguinte, ainda que breve, para apreciar alguns dos muitos edifícios românicos existentes na cidade e onde se deu também uma espreitadela ao rio Douro que por ali tem o seu percurso. Mas a curiosidade foi a existência, numa das praças, da estátua do nosso bem conhecido Viriato, que se diz ter nascido nos montes hermínios, e que na sua base tem a inscrição “terror romanorum”, que celebrava as suas vitórias sobre os romanos (oito no total), arrancando um farrapo dos seus estandartes vermelhos e colocando-os na sua lança.
León seria o termo da etapa seguinte e onde foi também o nosso alojamento e jantar, após o qual foi feita uma visita à zona histórica e ao “bairro húmido”, que apenas quer dizer zona de “bodegas” típicas.


Dia 2. Deixando León para trás, a visita seguinte foi à cidade de Oviedo, capital do principado das Astúrias e que me impressionou pela sua limpeza, onde desde manhã cedo se procede à lavagem das ruas, sendo informado pelo guia local que há um grande rigor quanto à separação por tipo de lixos e quem não recolher os dejectos dos cães que passeiam pelas ruas pode valer-lhe uma multa de 300 €. Os seus habitantes são chamados de Ovetenses e também conhecidos por “Carbayones” (carvalhões), havendo também um bolo tradicional com o mesmo nome, que comi e é muito bom. É a sede da Fundação Príncipe das Astúrias, que atribui prémios em diversas áreas, que a seguir ao Nobel é dos mais importantes. Também nos dizem que por toda a cidade se encontram cerca de 150 estátuas, o que tivemos oportunidade de confirmar pelas muitas que nos foi dado encontrar na nossa visita.
 
Continuando para Cangas de Onis, onde nos foi servido o almoço, prosseguimos para Covadonga, visitando o Santuário-Basílica ali existente e em visita facultativa aos lagos Enol e la Ercina, que se tornou numa experiência pouco agradável devido às condições climatéricas nada favoráveis (nevoeiro intenso).
A viagem prosseguiu por Arenas de Cabrales, conhecida pela produção de queijo, até La Franca onde se encontrava o hotel em que foi o nosso jantar e a nossa pernoita.
Dia 3. Saindo para Potes, prosseguimos o caminho para Fuente Dé onde teríamos a possibilidade de subir em teleférico os 1.823 m. que nos dariam a oportunidade de apreciar o Parque Nacional de Liébana e as altas cordilheiras,  mas também aqui as condições atmosféricas nos contrariaram as intenções. 
Regressando a Potes foi-nos proporcionado o almoço com um prato de características locais, com muitas semelhanças ao nosso cozido à portuguesa.
Continuando a nossa viagem foi feita uma paragem em Santillana del Mar, com visita ao mosteiro românico La Colegiata. A última paragem foi em Santander, onde teve lugar a nossa instalação hoteleira e nos foi servido o jantar, bem defronte do mar.
Dia 4. Depois de uma breve visita panorâmica pelas praias e cidade de Santander, iniciou-se a viagem para Valladolid, onde se visitou o centro histórico, incluindo Catedral e Plaza Mayor. Aqui foi o nosso almoço, após o qual seguimos para Salamanca, uma cidade declarada Património da Humanidade pela Unesco. Todo o seu património monumental é de uma riqueza incalculável, no qual se inclui a sua prestigiada universidade. Nesta cidade foi o nosso jantar e a nossa instalação hoteleira para a última noite.
Dia 5. Depois de uma noite que nos permitiu ver também o quanto são animadas essas noites em Espanha, numa Plaza Mayor a fervilhar de gente, foi possível uma visita a pé a esta maravilhosa cidade, apreciando toda a monumentalidade das suas construções e por fim saborear um almoço de características locais muito ao gosto de toda a comitiva. Por fim o adeus a todos os companheiros e o regresso de cada um aos seus locais de origem. Pode ser que um dia encontremos alguns dos novos amigos agora conhecidos.
Resta deixar uma palavra de apreço à guia Teresa Lucas e ao motorista Victor pela simpatia e profissionalismo.






terça-feira, 16 de abril de 2019

O PRAZER DAS COISAS… COMO RECOMPENSA !

Gosto de escrever e são já 12 os livros que publiquei até agora pelo sistema da auto-publicação.
Essa possibilidade tem sido proporcionada pela Editora Bubok, tendo vendido já 426 livros em papel. Mas também autorizei que fossem feitos downloads gratuitos dos mesmos e é gratificante verificar que vai em 3.326 o número total de downloads.
Dos livros que mais têm despertado o interesse dos leitores está o “Pelotão de Apoio Directo 1245 – no palco da guerra” com 47 livros vendidos e 845 down loads, seguindo-se “Viajar… o sonho que o tempo tornou realidade“ com 48 livros vendidos e 801 downloads e ainda “Chão de Alverca – Refúgio da Memória” com 45 livros vendidos e 797 downloads.
Se é verdade que escrevo apenas porque tenho prazer em fazê-lo, também é verdade que nos primeiros tempos em que fui fazendo este percurso cheguei a ser convidado por uma editora brasileira no sentido de escrever em exclusivo para ela. Na altura a minha ocupação profissional não iria permitir fazê-lo de modo satisfatório, o que me levou a recusar o convite.
Porque gostar de escrever não significa viver da publicação de livros e o prazer das coisas também é uma forma de nos sentirmos recompensados.

segunda-feira, 4 de março de 2019

UM AVC... É TRAMADO !

O AVC é algo “tramado” na vida de uma pessoa.
Aliviei a expressão para não escrever “deveras traumático” mas, podendo não ser fatal, pode deixar-nos numa situação que nos leva a desejar que o fosse.
Já vivi a experiência de um AVC e partilho a experiência com conhecimento de causa. Por isso mesmo, envio o meu abraço aos amigos e a todos os que lutam pela sua recuperação face a um embate dessa natureza e que as marcas possam ser atenuadas da melhor forma possível.
Foi em 15 de Janeiro de 2004 que me vi sujeito a essa terrível experiência. Estava então prestes a completar 60 anos de idade em 31 de Março desse ano.
Hoje tenho quase 75 anos e tendo passado já por outro dramático trauma na vida, como foi o de ver partir um filho com 38 anos de idade vítima de um tumor cerebral, contrariando leis da natureza que pareciam as mais adequadas à minha própria situação, que era o de assumir o seu lugar visto estar quase no dobro da idade que o filho tinha na altura, nem por isso deixei de acreditar que ainda vale a pena continuar a fruir da vida que me resta. Por mais curta que ela venha a ser.
O livro que escrevi sobre essa terrível experiência, pretendi que fosse um aviso aos que estão sujeitos a vivê-la tal como eu - porque ninguém está livre de tal acontecer - e os testemunhos expressos sobre o relato da minha experiência por quem trata e procura minimizar o efeito de tais situações por dentro - médicos e enfermeiros/as ligados ao problema, bem merecem ser divulgados. Como uma homenagem que lhes presto, mas também e, principalmente, porque a sua palavra pode ser um aviso de prevenção que deve ser levado muito a sério e no momento certo.
 O primeiro comentário foi do Dr. António Lourenço Marques após ter divulgado no meu blog a experiência do AVC. Foi depois repetido a propósito do livro.
"Meu caro Alvaro Vaz: tinha feito o meu comentário no blog, mas parece que não "pegou". Reproduzo-o aqui, não sendo a mesma versão, mas terá o mesmo sentido. A sua descrição do episódio de AVC é uma peça espantosa com uma descrição muito pormenorizada e rigorosa, com todos os elementos clínicos, vistos do lado de quem habitualmente não se pronuncia, o doente, submetido à lupa do médico. Lembra o livro impressionante, Valsa Lenta, de Cardoso Pires, que no caso foi passado também pela ficção de um grande escritor, mas o seu, para mim, é mais minucioso sobre a fase aguda. E, depois, dá-nos conta da vivência psicológica e social (hospital) com uma intensidade absolutamente surpreendente. Temos aqui uma lição de um homem que, para além da coragem, mostrou a sua força intrínseca quanto à importância que atribui ao facto de viver e que cuidados importa ter em conta, para se viver melhor . É uma preciosa lição, de facto, para o nosso quotidiano, um texto que devia ser lido por todos. Todos aproveitaremos, não tenho dúvidas, e certamente também o admiraremos ainda mais. Obrigado por ter partilhado e um abraço."
Também a propósito do livro viria a receber a carta que me permito reproduzir a seguir:

"Diretor Técnico | Psicólogo Clínico
WWW.ASSOCIACAOAVC.PT 
Estimado Sr. Álvaro Roxo Vaz,
Não obstante termos recebido o seu livro no final de Maio, pensamos nunca ser tarde agradecer-lhe com muito entusiasmo a sua generosa oferta e partilha. Li-o neste fim de semana, com imenso gosto e fiquei com uma sensação de muita proximidade com a sua vida, pessoa e respectiva idiossincrasia, que passei a admirar muito.
Além de também ser um confesso admirador do André Rieu e de o invejar pela oportunidade de assistir em Bruxelas ao seu concerto, fiquei sensibilizado pelo seu percurso e capacidade de luta. Pela sua perspectiva existencial e denotada capacidade de amar a vida.
A determinada altura (na página 90-91), refere "... a nível do espirito, do pensamento, da forma como encaro a vida e do que espero dela, ocorreu uma grande transformação (...) Porque pode parecer um absurdo, mas foi preciso sofrer aquele 'safanão' para perceber mais claramente que a vida é o bem mais precioso que eu tenho, mas que não valorizava como devia valorizar (...) hoje tenho plena consciência de que a vida me foi concedida por empréstimo, com o 'compromisso inalienável' de a devolver a qualquer momento."
Acredito que esse nível de consciência, se me permite fazer esta extrapolação e comentário, seja um dos factores mais protectivos e preventivos de qualquer outra repetição de um AVC e de uma vida plena sentido e propósito. Estes onze anos são prova disso! Creio mesmo que este acontecimento de vida em 2004, é um marco de viragem para um reencontro consigo próprio. Uma oportunidade que o Universo lhe concedeu para realmente encontrar o seu sentido ontológico e metafisico mais profundo.
Peço-lhe desculpa pela ousadia em fazer este comentário! Contudo a sua partilha é tão genuina, autentica e reveladora que, enquanto leitor senti, reforço, uma proximidade muita rápida.
Em nome da Direcção da Associação Nacional do AVC e da nossa equipa, gostaríamos de lhe agradecer pelo exemplar que nos enviou, mas sobretudo pela partilha materializada em livro que com certeza inspirará e trará luz a muitos que tenham percorrido este lado mais sombrio da doença.
Estaremos sempre à sua disposição.
Um abraço solidário e com estima,
Diogo Valadas Ponte"
Também por intermédio da diretora do grupo de trabalho da associação Portuguesa de AVC no Fundão e a propósito do livro fui presenteado com o seguinte comentário:
"Boa tarde Sr. Álvaro
Não sei se recordar de mim, o meu nome é Stéphanie Bonito. Sou a diretora do grupo de trabalho da associação Portuguesa de AVC no Fundão. Esteve connosco no nosso primeiro rastreio e presenteou-nos com um exemplar do seu livro.
Infelizmente, a carga horário só agora me permitiu ter tempo para me entregar a esta leitura. 
Contudo, após esta leitura senti-me na obrigação de lhe agradecer por este magnífico momento de leitura que me proporcionou. 
Ainda como estudante de enfermagem e prestes a ingressar nesta profissão, sinto-me grata pela experiência que partilhou connosco e pelos ensinamentos que pude retirar desta, é sempre muito proveitoso ver o lado da doença, do doente, como se sente e como realmente pode ser ajudado.
 Para além do contributo como futura profissional, foi da mesma forma um grande contributo pessoal, pela sua força e persistência em lutar pelos seus sonhos, um grande exemplo para quem tem um futuro desconhecido e pelo qual tem de lutar, e oxalá que o consiga fazer com a mesma garra que o Sr.Álvaro agarrou os seus sonhos.
Por último, foi ainda um impulso e uma força para levarmos este projeto avante com determinação, pela necessidade de estar perto das pessoas, ajudando-as a evitando os fatores de risco, ensinando-lhes como aproveitar e viver a vida com mais qualidade, e longe das doenças cardiovasculares. 
O seu livro ira passar por todos os membros deste projeto, e será certamente um incentivo para todos continuarmos este trabalho.
 Mais uma vez obrigada por esta fantástica lição de vida.
Com os melhores cumprimentos
Stéphanie Bonito"

O meu percurso de vida e a experiência vivida com o AVC, já me ensinaram que nenhum sinal pode ser desprezado. Pode significar evitar ou não evitar uma tal experiência.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

1987-O lado menos belo da história do poder autárquico no Fundão

Foi algo de muito belo o que aconteceu ao ser conquistado pelo povo português o direito à livre expressão, a eleições livres e através do sufrágio universal poder votar e ser votado para cargos públicos electivos.
No caso das autarquias locais estas vieram proporcionar a muitos cidadãos a possibilidade de exercer esse direito, sendo investidos no desempenho de cargos e com competências que apenas a democracia tornou possíveis.
Todavia, a avaliação crítica ao desempenho de tais cargos nem sempre passa de acusações dos opositores políticos ou mesmo companheiros de coligação desavindos, com retórica estéril e sem qualquer fundamento, que a existir poderia evitar situações como a que se verificaram na Câmara Municipal do Fundão no mandato que seria suposto ter a duração de 4 anos a iniciar em 1986, mas que vigorou apenas até 15 de Julho de 1987. Era o lado menos belo da história do poder autárquico no Fundão.
De facto, nessa data é emitido pelo Ministério do Planeamento e Administração do Território o seguinte documento:
Decreto do Governo n.º 26/87 de 15 de Julho
Tendo sido apurado, em inquérito, que se têm verificado na Câmara Municipal do Fundão graves ilegalidades no que respeita ao seu funcionamento interno e tomada de decisões;
Considerando que os factos apurados afectam gravemente a imagem do poder local e se reflectem de forma nociva nos interesses da autarquia e respectivas populações;
Considerando a situação de bloqueamento do funcionamento da Câmara Municipal do Fundão, resultante da radicalização das posições assumidas pelos seus membros;
Tendo em conta que os factos apurados se traduzem na violação, de uma forma grave, do disposto nos artigos 48.º, 70.º, n.os 1 e 2, 79.º, n.º 1, 80.º, n.º 1, e 86.º, n.º 1, do Decreto-Lei 100/84, de 29 de Março, e são, por isso, enquadráveis na alínea a) do n.º 1 do artigo 93.º da Lei 79/77, de 25 de Outubro;
Obtido parecer favorável da Assembleia Distrital de Castelo Branco:
O Governo decreta, ao abrigo do n.º 3 do artigo 93.º da
Lei 79/77, de 25 de Outubro, e nos termos da alínea d) do artigo 202.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º É dissolvida, com os fundamentos constantes do preâmbulo do diploma, a Câmara Municipal do Fundão.
Art. 2.º É nomeada para gerir a Câmara Municipal do Fundão, até à posse dos novos membros eleitos, uma comissão administrativa, composta pelos seguintes cidadãos eleitores:
  Presidente:
Dr. Luís Afonso Leitão

  Vogais:
Dr. José Sampaio Lopes

Joaquim Ferreira Ventura
Também fui dos que passou pela política de forma activa, fazendo parte dessa Câmara como vereador municipal.
Fi-lo com o espírito de quem está a prestar um serviço ao seu país ou, como foi o caso, à sua comunidade. Em espírito de missão.
Aliás, sempre aceitei e entendi que a política é uma actividade nobre, desde que desempenhada com objectivos de isenção, de entrega à causa pública e de defesa do que é de todos.
Mas a experiência não tardou a demonstrar-me que os bem-intencionados não sobrevivem por muito tempo no mundo da política quando se recusa, como sempre fiz, em subscrever a defesa de interesses particulares ou alinhar nos interesses de grupo que não propriamente os interesses do povo.
Quando em minoria ou isoladamente, como foi o meu caso, ou abdicamos da nossa consciência e do livre pensamento, ou perdemos o espaço de manobra, com qualquer iniciativa ou proposta a cair quase sempre em saco roto.
Mas foi nessa qualidade de vereador que vivi a experiência mais agitada mas ao mesmo tempo extraordinariamente enriquecedora, onde a minha posição minoritária se tornou o “fiel da balança”, que no momento próprio se inclinou para a decisão que achei moralmente aceitável e que viria a conduzir à já referida dissolução da primeira câmara no pós-25 de abril.
Tal câmara resultou das eleições autárquicas de 15-12-1985, que, depois de formada ficou com a seguinte composição:
PSD/CDS – 4 vereadores (PSD-2/CDS-2)
PS – 2 vereadores
PRD – 1 vereador
Tudo ocorreu no período de 1986 a 1987 com a maioria PSD/CDS a dominar a câmara, parecendo assim ter todas as condições para funcionar normalmente.
Mas o “casamento” PSD/CDS depressa começou a ser perturbado por “infidelidades” ocasionais, com elementos do CDS a juntar-se ao PS para formar maiorias de conveniência e assim contrariar os cálculos e as votações do PSD.
Como representante do PRD, a minha postura foi sempre a de evitar que me envolvessem nos acontecimentos e dessa forma prejudicar as deliberações que me eram possíveis e que pretendia fossem tomadas a bem dos munícipes e do concelho.
Mas a barafunda acabou por instalar-se.
Houve deliberações de uns tentando declarar perdas de mandato de outros, presidências assumidas por uns dizendo que os outros não tinham legitimidade, convocatória de sessões para deliberações declaradas ilegais pelos outros… até se chegar à intervenção da polícia, chamada por uns para expulsar os outros, etc. etc.
Chegados a esse ponto de indignidades e recusando eu pressões para que delas fizesse parte no sentido de viabilizar a maioria de um dos lados, achei que era tempo de me retirar dali.
Decidi renunciar e todos os da minha lista também assim fizeram, deixando de haver quórum que permitisse o funcionamento do executivo.
Consequentemente, a câmara veio a ser dissolvida nos termos do Decreto do Governo n.º 26/87 de 15 de Julho já referido.
Era a primeira do país a cair e para mim a grande lição do que não deve acontecer em política, levando-me a uma decisão que permitiu evitar o “vale-tudo” que parecia querer instalar-se.
Antes havia tido a experiência da freguesia, onde vim a ser secretário da junta e presidente da assembleia.
Mas foi enquanto secretário da junta que aconteceu o recenseamento eleitoral, participando eu na comissão que havia de o levar à prática.
E quando se colocava a questão sobre qual o nome para a primeira linha do caderno eleitoral número um, os companheiros sugeriram que deveria ser o meu.
Dessa forma obtive da política a minha única compensação, recebendo o “título” de eleitor nº.1.
Com a consciência do dever cumprido, não podia ter melhor compensação num mundo em que os encómios e louvaminhas se repetem e perpetuam no tempo.
 

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

As crianças são pessoas !

Vivi numa quinta até aos 17 anos.
Aprendi como estar em harmonia com a natureza. Sei bem o que é tratar de tudo aquilo que nos proporciona o alimento, porque era esse que nos entrava em casa para alimentar a nossa família. Bens que a natureza nos proporcionava e ainda proporciona.
Os meus pais ensinaram-me a tratar deles como as coisas mais preciosas.
Não se obtinham das prateleiras do supermercado… se não fossem bem tratados não estariam disponíveis para os consumirmos. Em criança, quando um pedaço de pão caía ao chão ensinaram-me a limpá-lo e dar-lhe um beijo antes de o consumir. Era a forma de o valorizar, não o desperdiçando, e por ele manifestar o meu respeito.
Tínhamos animais, uns que também nos proporcionavam os alimentos, como era o caso de vacas, porcos, galinhas, patos, coelhos, cabritos, carneiros e outros, para além de todo o tipo de frutícolas e hortícolas, etc. etc.. E ainda aqueles que nos serviam de guardas, tanto aos humanos como a outros animais. Os cães.
Tínhamos um chamado negrito que até era um precioso guarda dos pintainhos quando a ameaça vinha dos milhafres, mas também quando a ameaça vinha de raposas, de lobos ou de outros cães.
Mas estes nunca deixaram de ser animais, com alojamentos próprios para os animais. Seres distintos dos humanos.
Se fosse necessária a intervenção veterinária para repor qualquer anomalia com a saúde desses animais, ela era pedida. Porque respeitávamos os seus direitos. Mas não mais do que isso.
Tenho 74 anos e sempre gostei muito de animais tratando-os como merecem, ou seja, tratando-os bem.
Mas gostar e tratar bem os animais é uma coisa, gostar de crianças é outra. Não tem comparação.
As crianças dão-nos a garantia de que a humanidade irá continuar… se os humanos a não destruírem.
Os animais…não. E quando famintos por falta de quem lhes proporcione o alimento, seremos nós a estar à sua frente vistos como tal. Não tenham dúvidas… e não fiquem chocados.
Para já e a longo prazo não estaremos em perigo. Outros animais ocupam o nosso lugar e serão o seu alvo.
Mas a confusão está instalada.
Apesar de todo o meu respeito pelas suas opções sobre este tema, há humanos que lutam de forma quase animalesca pelos direitos dos animais… mas parece esquecerem os direitos de crianças que morrem de fome.
E que estas são pessoas.

sábado, 20 de outubro de 2018

Quando a história da “minha guerra” se cruza com a do maior historiador sobre guerras coloniais, com cinco livros sobre Portugal, René Pélissier

Apaixonado pela escrita, editei até agora 12 livros por auto publicação, dois deles relatando as minhas vivências no cumprimento do serviço militar, que culminou com uma comissão de serviço na antiga colónia portuguesa de Angola e na então Cidade Salazar, hoje N’Dalatando.
Um dos livros publicado em 2010 historiava a minha estada de mais de dois anos nessa cidade de N’Dalatando e foi titulado de “Pelotão de Apoio Directo 1245-no palco da guerra colonial-Angola”.


Um exemplar do livro havia de ser-me solicitado pelo historiador francês René Pélissier e perguntado se estaria interessado em que dele fosse feita uma resenha que seria publicada em revistas, uma portuguesa e outra francesa, para as quais escrevia como colaboração, para fazer uma bibliografia crítica sobre todas as publicações que se fizeram acerca de guerras coloniais, portuguesas e não só, a partir de 1840.
Consultei na net sobre esta personagem e descubro que é o maior historiador sobre o tema, residente em Paris com uma colecção de 12.000 volumes. Surpreendido com o pedido, hesitei em corresponder-lhe mas acabei por enviar-lhe o livro. Passados uns tempos enviou-me duas páginas de uma revista francesa onde na verdade fazia a resenha sobre o seu conteúdo.

A pesquisa leva-me também a uma entrevista sua ao jornal Expresso que me deixa perceber a grandeza dessa figura no mundo literário e da investigação sobre o tema das guerras coloniais, sendo um dos raros historiadores não lusófonos com a publicação de cinco livros sobre Portugal traduzidos em português.
Também publiquei em 2012 o livro "Memórias de um recruta" que relata parte da minha vida militar antes da que foi relatada no livro que citei atrás. Se nesse livro referi os momentos após mobilização para Angola e a estada nessa ex-colónia portuguesa, já neste livro “Memórias de um recruta” foram desenvolvidos aspectos da preparação e da especialização para as operações que iriam ser desempenhadas no teatro de guerra.
 
Mas a partilha das experiências através destes livros veio a ser para mim deveras gratificante, porquanto, permitiu não só o honroso “encontro” com René Pélissier, como a simpática solicitação do Presidente da Liga dos Combatentes para lhe ser enviado um exemplar de cada um dos livros. Ambas me tocaram profundamente.
Como deixei escrito no inicio, são 12 os livros que editei até agora por auto-publicação. Neles faço o relato de vivências pessoais ou de grupos e instituições a que dei a minha colaboração, acontecimentos e episódios, uns mais felizes e outros menos felizes, dramáticos ou terrivelmente traumáticos, como são os casos de um AVC que me aconteceu aos 59 anos ou o falecimento de um filho com 38 anos após 25 meses de sofrimento atroz, vítima de tumor cerebral. 
São histórias que compõem o todo da história global de que fazemos parte como figurantes, mas as quadras e a poesia também ali estão para dar harmonia e um tom mais luminoso aos estados de alma que proporcionaram a explanação das ideias que me levaram aos escritos.
Mas sendo o que emocionalmente mais difícil se tornou no desenvolvimento desse escrito, foi também o que maior força interior teve para o levar a bom termo, visto tratar-se de uma homenagem que pretendi prestar ao filho, mas também à família e aos amigos que sempre estiveram com ele até aos últimos momentos. O David, a família e os amigos mereciam-no.