segunda-feira, 25 de novembro de 2013

FUNDÃO - onde já houve bandas (2)

Pela segunda vez, estou a referir-me ao assunto, pois a recolha de elementos que na primeira vez havia conseguido não foi suficiente para dar maior amplitude ao tratamento que esta matéria merecia. E fui reunindo dados, que hoje permitem ampliar um pouco mais a história sobre as bandas que existiram no Fundão.
Mas foi o carnaval de 1997 que permitiu a "ressureição" da banda (clicar) que não existia no Fundão. Gostei de estar no papel do "rege-dor" que dela fez a "inauguração". Mas passou o carnaval e a banda transformou-se de novo no fumo que a trouxe. Mesmo sendo desconchavada, permitiu puxar à memória outras bandas que existiram no passado.
E de modo muito sério a elas me refiro aqui de novo.
Compulsando o livro "Fundão-História cronológica",  da autoria de J. Mendes Rosa e editado pela Câmara Municipal do Fundão em 2005, encontramos este texto referido a 1898:
"O Fundão tem uma vida económica e cultural viventíssima: possui comércio de todos os sectores, dois hotéis (Hotel Commercio e Hotel da Joaquina), três farmácias, agências bancárias, seguradoras e companhias de viação; uma tipografia, os dois jornais referidos e duas filarmónicas".
Os jornais a que o texto se referia eram: Jornal do Fundão, A Beira, o Escalpello, o Fundão-Breve Notícia.
Do que não ficam dúvidas é que, no contexto em que é citada, a existência de duas filarmónicas é um dado histórico a que se atribui uma grande importância.
O percurso e o tempo de vida destas bandas filarmónicas não consegui reconstitui-los, porém, no livro "Etnografia do Fundão" da autoria do Dr. José Monteiro, publicado em 1999, refere-se nas suas págs.159, 160 e 161 à existência da "banda do José Augusto".
E avançando no que está escrito, encontramos: "As notas que passamos a transcrever são de 1941: A música de José Augusto foi criada em 1870. A esse tempo, havia no concelho duas músicas - a de Alpedrinha e a do Souto da Casa, esta regida pelo José Augusto, que ao tempo vinha dar lições de música a meninas do Fundão como a filha do Mário (?) (Casa da Piedade Pelejão(?) da Piedade do Adro), a do Tomaz França (casa do Adro), etc.. Quando formou a música do Fundão, ainda estava no Souto da Casa. Depois teve lá umas questões quaisquer e veio para o Fundão, onde residiu e teve ensaio na casa do lado de cima do fotógrafo Rosel, na rua da Cale - casa que era de um sujeito da Covilhã...".
Ora, se em 1898 existiam duas bandas filarmónicas no Fundão, creio poder concluir pela possibilidade de a banda do José Augusto ser uma delas, dado o facto de a mesma ter sido criada em 1870.
Transcrevo ainda o início do texto sobre a banda do José Augusto, pela curiosidade de que se reveste: "Tornou José Augusto famosa a sua banda na região, não só pela qualidade das suas execuções, mas pela peripécia da prisão sofrida por todos os respectivos componentes, incluindo o mestre, dado o facto de terem saído a tocar um hino republicano, da autoria de José Augusto, em pleno regime monárquico".
Mas já em pleno século XX constata-se a existência da "banda velha", no Fundão, que é lembrada por uma foto publicada na revista nº.1, de Dezembro 2001, editada pelo Grupo Folclórico Etnográfico Amigos do Fundão, que atribui àquela foto a data de 1934.
Em contraponto à banda designada de banda velha, também na mesma revista se insere uma foto assinalando a existência da "banda nova" que me dizem ter sido a "Banda União Fundanense" ou Banda do Járinho, nome pelo qual era conhecido Januário Novo, seu maestro, situando-se essa existência pela década de 40.
Pelo que era dito por meu sogro, Augusto César Cruz Gonçalves, contrabaixo nesta banda, havia uma grande rivalidade entre a banda velha e a banda nova, chegando a verificar-se "roubos" de elementos entre as duas bandas.
Em que datas estas bandas deixaram de existir não consegui apurar, mas seguiu-se um período em que o Fundão não tinha qualquer banda filarmónica.
Até que em 1963 a ADF- Associação Desportiva do Fundão cria a sua banda, tendo como maestro Manuel dos Santos Leitão e depois seu filho António Alves Leitão, que haviam militado numa ou mesmo nas duas bandas anteriores, sendo pessoas dedicadas à música, tanto em bandas como em orquestras.
A banda da ADF teve então uma atitude invulgar, ao iniciar o ensino da música nas escolas primárias, caso inédito até então em Portugal, sendo por esse facto cumprimentada pela Fundação Gulbenkian
A actividade desta banda terminou em 1976 e a partir de então não mais houve qualquer banda no Fundão.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

CHICO DA PONTE - MEU PAI

Meu pai nasceu em 1903. Viveu até 1984. Teria 110 anos, se hoje fosse vivo. Mas passados todos estes anos, ainda sou surpreendido com um episódio da sua vida. Nunca frequentou a escola porque a sua vida de trabalhador rural e ganhão nunca lho permitiram, mas ele aprendeu a ler e a escrever.
E foi a esse propósito que alguém, já com 70 anos de idade, me disse há dias: - “Tenho em casa um alfarrábio de meu avô, onde registava os valores e os géneros que recebia de pessoas que ele ensinava a ler, a escrever e a fazer contas. E o nome do seu pai também lá está. Sei que é ele, porque “Francisco da Ponte” não havia outro. Até os valores que então pagou e os géneros que entregou, lá estão registados”. Os géneros eram cereais, como grão, feijão ou outros. Como eu fiquei feliz por conhecer mais este episódio. Sabia que meu pai tinha sido um autodidacta, pelos relatos de familiares e pelos livros que encontrei em casa, depois do seu falecimento, mas que até pagou para aprender a ler e escrever, fiquei agora a saber. O quanto me orgulha por ser filho do Chico da Ponte e da Maria Joaquina !